O risco ignorado: A realidade das casas sem seguro sísmico em Portugal

Portugal, apesar de ser um país de rara beleza e tradição, encontra-se numa zona de significativa atividade sísmica. No entanto, a quantidade de residências seguradas contra sismos permanece preocupantemente baixa. Esta situação não só coloca em risco o patrimônio pessoal de milhões de portugueses, mas também expõe uma vulnerabilidade que, em caso de um grande terremoto, poderia ter consequências devastadoras para a economia nacional.

Historicamente, Portugal já foi palco de terremotos catastróficos, como o Grande Terremoto de Lisboa de 1755, que dizimou grande parte da capital e teve repercussões em todo o país. Apesar do avanço tecnológico e do aumento da conscientização sobre os perigos sísmicos, o comportamento coletivo em relação ao seguro residencial contra sismos não reflete essa realidade. Em 2023, menos de 20% das habitações no país estavam seguradas contra este tipo de catástrofe natural, um número alarmante para um país com uma história sísmica tão marcada.

Esta situação pode ser atribuída a vários fatores. Primeiro, há uma percepção errônea de que "não vai acontecer comigo". Muitas pessoas subestimam o risco, achando que a probabilidade de um terremoto significativo ocorrer durante a sua vida é baixa. No entanto, este é um jogo perigoso, pois a ciência demonstra que a questão não é se um grande terremoto ocorrerá, mas quando. Em regiões como o Algarve, por exemplo, a proximidade à falha geológica na zona do Atlântico Norte torna a ocorrência de sismos uma preocupação constante.

Outro fator é o custo do seguro. Com o aumento do custo de vida, muitas famílias priorizam despesas imediatas e tangíveis, relegando o seguro contra sismos a um item secundário. Esta priorização, no entanto, revela-se uma falsa economia quando comparada ao potencial custo da reconstrução ou reparo de uma casa após um sismo. O que é economizado mensalmente em prêmios de seguros pode se tornar uma dívida insustentável após um evento catastrófico.

Há também a falta de incentivos claros por parte do governo e das seguradoras para promover este tipo de seguro. Diferentemente de outros países com alta atividade sísmica, Portugal carece de políticas públicas robustas que incentivem a adesão ao seguro contra sismos. Medidas como subsídios, deduções fiscais ou mesmo campanhas de conscientização massivas poderiam mudar drasticamente o panorama atual.

É imperativo que haja uma mudança de mentalidade em relação à proteção patrimonial contra sismos em Portugal. As autoridades devem liderar este movimento, implementando políticas que incentivem a contratação de seguros e educando a população sobre os riscos reais que enfrentam. Por outro lado, as seguradoras têm a responsabilidade de tornar esses seguros mais acessíveis e atrativos, oferecendo pacotes que se ajustem à realidade financeira das famílias portuguesas.

A prevenção e a preparação são as melhores defesas contra desastres naturais. Ignorar a necessidade de seguro contra sismos é negligenciar uma responsabilidade cívica e pessoal, colocando em risco não apenas o futuro das famílias, mas também a resiliência da sociedade portuguesa como um todo. O momento de agir é agora, antes que um novo tremor nos desperte, de forma dolorosa, para a realidade que escolhemos ignorar.

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