O valor da proteção financeira na engenharia: Reflexões da Madeira
Recentemente, tivemos o privilégio de participar numa conferência na Ordem dos Engenheiros da Madeira, onde discutimos um tema que, embora muitas vezes relegado a segundo plano, é de extrema relevância para os profissionais da engenharia: a proteção financeira. Foi uma oportunidade de refletirmos sobre a situação dos engenheiros portugueses, destacando pontos essenciais como a proteção pessoal e empresarial, a responsabilidade civil e o panorama dos seguros e fundos de pensões no nosso país.
Logo no início da sessão, ficou claro que há uma discrepância significativa entre a forma como os engenheiros em Portugal encaram a proteção financeira em comparação com os seus pares em outros países europeus. De acordo com os dados apresentados, os profissionais portugueses, em geral, contratam muito menos seguros do que engenheiros de países como a Alemanha, a França ou os Países Baixos. Esta tendência pode ser explicada por vários fatores, incluindo uma menor cultura de risco, a falta de informação ou, talvez, a perceção de que os seguros são um custo dispensável em tempos de estabilidade. Contudo, o que discutimos na conferência é precisamente o contrário: a proteção financeira deve ser vista como um investimento, não como um custo.
Proteção Pessoal e Empresarial: Um Pilar Essencial
Um dos tópicos centrais da nossa apresentação foi a distinção entre a proteção pessoal e a empresarial. Para um engenheiro, ambos os tipos de proteção são fundamentais. Do ponto de vista pessoal, abordámos a importância de ter seguros de saúde, seguros de vida e, claro, de poupança-reforma ou fundos de pensões. A longevidade das nossas carreiras e a incerteza associada ao futuro económico tornam imperativo que tenhamos mecanismos de proteção sólidos.
No entanto, a proteção empresarial não pode ser subestimada. Para os engenheiros que atuam como consultores independentes ou gerem pequenas empresas, o seguro de responsabilidade civil é uma ferramenta essencial. Com a crescente complexidade dos projetos e o aumento das exigências legais e contratuais, a probabilidade de litígios ou de erros técnicos que possam ter consequências financeiras severas é real. Sem uma cobertura adequada, o impacto pode ser devastador, colocando em risco tanto o negócio como o património pessoal do profissional.
O Papel dos Seguros em Portugal: Uma Questão de Cultura?
Um ponto de debate durante a conferência foi o facto de os engenheiros portugueses contratam menos seguros do que os seus colegas europeus. Esta questão não é apenas financeira; é também cultural. Em muitos países da Europa, a contratação de seguros é vista como uma prática comum, uma parte natural da gestão de risco. Em Portugal, parece que esta mentalidade ainda não está enraizada, o que nos coloca numa posição de vulnerabilidade.
Durante a nossa intervenção, destacámos a importância de mudar esta perceção. Precisamos de um esforço conjunto — desde as associações profissionais, como a própria Ordem dos Engenheiros, até às instituições de ensino — para sensibilizar os engenheiros para a importância de se protegerem financeiramente. Não se trata apenas de seguir "boas práticas" ou de imitar os outros países, mas de garantir que, em caso de imprevistos, os profissionais não sejam apanhados desprevenidos.
Os Fundos de Pensões: Um Olhar para o Futuro
O último ponto da nossa conferência abordou uma questão que, apesar de ser uma preocupação global, assume contornos específicos em Portugal: os fundos de pensões. Com o envelhecimento da população e as incertezas sobre o futuro da Segurança Social, os fundos de pensões privados surgem como uma alternativa cada vez mais relevante. No entanto, segundo os dados apresentados, a adesão dos engenheiros portugueses a estes instrumentos de poupança a longo prazo é ainda muito baixa.
Refletimos sobre como, enquanto profissionais, podemos começar a planear mais cedo e a garantir que, quando chegar a altura da reforma, tenhamos uma base sólida que nos permita manter um nível de vida confortável. Este planeamento a longo prazo é essencial, e os fundos de pensões, quando bem geridos, oferecem uma segurança adicional.
O Caminho a Seguir
Ao concluir a nossa conferência, reforçámos a mensagem de que a proteção financeira não deve ser vista como um tema secundário, mas como uma prioridade na carreira de qualquer engenheiro. A necessidade de contratar seguros adequados e de planear o futuro financeiro não é apenas uma questão de precaução — é uma responsabilidade. O engenheiro moderno não pode limitar-se a dominar a técnica; deve também estar preparado para enfrentar os desafios económicos e legais do mundo atual.
A nossa missão é continuar a promover esta mudança de mentalidade, incentivando a adotar práticas financeiras mais seguras e a preparar-se para o futuro. Porque, no final do dia, proteger-se financeiramente é proteger o próprio exercício da profissão e a qualidade de vida a longo prazo.
