A distância que custa vidas: quando o acesso à saúde pública falha às grávidas
Portugal tem um Serviço Nacional de Saúde que já salvou muitas vidas. Mas, infelizmente, também tem vindo a falhar — e quando falha, fere com gravidade. Esta semana, assistimos a mais um caso revoltante: uma grávida perdeu o bebé após ser reencaminhada para um hospital a mais de uma hora de distância da sua residência, devido à falta de resposta obstétrica mais próxima.
Este não é um episódio isolado. É a repetição de um problema estrutural que tem vindo a agravar-se: encerramentos temporários de urgências obstétricas, escassez de profissionais, e um sistema que, em vez de proteger as grávidas num dos momentos mais vulneráveis das suas vidas, as expõe a riscos evitáveis.
A perda de um filho nestas circunstâncias não pode ser encarada como “má sorte” ou “fatalidade”. É uma consequência direta de falhas no planeamento e na resposta do sistema público de saúde. Para as famílias, não se trata de estatísticas — trata-se de luto, de dor, de uma cicatriz para a vida toda.
Perante esta realidade, muitas pessoas, sempre que podem, procuram alternativas complementares. Um seguro de saúde, por exemplo, pode garantir acesso a cuidados obstétricos mais rápidos, consultas de vigilância com menor tempo de espera, e acesso a unidades privadas com maior capacidade de resposta em situações de urgência. Não é a solução para todos — nem deve substituir o dever do Estado — mas é, cada vez mais, uma ferramenta de proteção numa realidade onde o risco se tem tornado demasiado alto.
O caso desta mulher — e do seu bebé — devia envergonhar-nos como sociedade. O nascimento é o início da vida, e nada justifica que seja também o cenário da morte evitável. Precisamos de exigir mais do Estado, sim. Mas também de cuidar de nós, das nossas famílias, e de considerar todas as formas de proteção que nos possam garantir uma gravidez com dignidade, segurança e paz.