A armadilha das poupanças “paradas”
Os últimos dados do Banco de Portugal mostram um número que devia fazer-nos pensar: as poupanças das famílias portuguesas em depósitos bancários ultrapassaram os 197 mil milhões de euros. Um valor gigantesco — mas que, em vez de ser um motivo de orgulho, devia ser um alerta.
Sim, é sinal de que os portugueses conseguem poupar. Mas é também sinal de que a maior parte desse dinheiro está parado, sem gerar valor, sem proteger quem o poupa e, na prática, a perder poder de compra com o tempo.
O mito da segurança absoluta
Durante décadas, fomos educados a acreditar que o depósito a prazo era o símbolo máximo da segurança. “O dinheiro está no banco, logo está seguro.” Mas, hoje, essa segurança é relativa. Quando a inflação ultrapassa a taxa de juro oferecida pelos bancos — e tem sido assim há muito tempo —, o que parece uma decisão prudente transforma-se num risco silencioso: o risco de ver o valor real da poupança a diminuir.
Guardar dinheiro sem rendimento é, na verdade, ver o dinheiro a perder valor.
A inércia financeira custa caro
O dinheiro que fica “à espera” numa conta não está a trabalhar para nós. E o que é pior: está a trabalhar para o banco, que o usa para financiar outras operações, enquanto o cliente recebe uma remuneração mínima.
Como assessor financeiro, vejo isto todos os dias. Pessoas que conseguiram poupar ao longo de anos, mas que não fazem o dinheiro crescer. Pessoas que acham que estão a ser cautelosas — quando, na verdade, estão a perder oportunidades de rendimento e de proteção financeira.
Esta inércia tem um custo real: menos rentabilidade, menor proteção e, a longo prazo, menos liberdade financeira.
Há alternativas mais inteligentes
Não se trata de arriscar sem pensar, mas sim de usar melhor o que já temos.
Uma parte razoável dessas poupanças poderia estar aplicada em instrumentos mais eficientes e lucrativos, como:
- Fundos de investimento diversificados, com risco controlado e potencial de rendimento superior;
- Seguros de capitalização e produtos com componente de proteção, que combinam segurança com crescimento do capital;
- Planos de reforma ou investimento a longo prazo, que protegem contra a inflação e asseguram o futuro;
- Gestão equilibrada da liquidez, mantendo apenas o necessário para emergências e colocando o resto a trabalhar.
Estas opções não são para “ricos” — são para quem quer fazer o seu dinheiro render e proteger-se de forma inteligente.
A verdadeira segurança é a que cresce
Se há quase 200 mil milhões de euros parados em depósitos, então o problema não é falta de dinheiro: é falta de estratégia.
Em tempos de incerteza económica, a verdadeira segurança não está em deixar o dinheiro quieto — está em garantir que ele cresce, protege e acompanha o custo de vida.
Deixar as poupanças paradas é, no fundo, desperdiçar o potencial de um país inteiro.
Por isso, lanço-lhe o desafio: olhe para as suas poupanças e pergunte-se — quanto do meu dinheiro está realmente a trabalhar por mim? Se a resposta for “quase nada”, talvez esteja na hora de repensar a estratégia.
Investir, proteger e planear não é arriscar — é garantir que o esforço de hoje vale mais amanhã.